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> Inezita Barroso
Auto de Natal Brasileiro com Inezita Barroso
Por S rgio Foga a

Nada de Papai Noel vestido de
vermelho, renas ou Jingle Bell.
O Natal promovido pelo Sesc Ipiranga no dia 14 vai trazer Folia de
Reis, Chegan a e Bumba-Meu-Boi, tudo sob batuta e pesquisa de
Inezita Barroso, a grande dama da m sica caipira brasileira e
apresentadora, h 22 anos, do programa Viola, Minha Viola. Inezita
conta nesta entrevista como ser o Auto de Natal encenado no Sesc
Ipiranga, fruto dos 50 anos de pesquisa e carreira da artista. S o
pe as recolhidas por todo o Brasil. Com ela tamb m estar o grupo
Bando Flor do Mato e mais 12 atores juvenis, somando cerca de 30
pessoas em cena. um verdadeiro resgate do sentido do Natal, atrav s
da cultura e tradi o brasileira. Inezita completou, em 2002, 50
anos de carreira, iniciada na R dio Nacional. Apaixonada por
televis o, n o desperdi ou a primeira oportunidade que teve na
Rede Record. Coerente ao extremo, nunca deixou de s apresentar o
que gosta. E o que faz h 22 anos frente do consagrad ssimo
programa Viola, Minha Viola da TV Cultura de S o Paulo. Indo
para 23 anos em abril do pr ximo ano, sem falhar uma semana, sem
sair do ar e sem mudar de canal , lembra Inezita. Al m do
programa ela tamb m vai completar quase 20 anos lecionando sobre
Folclore Brasileiro e Hist ria da M sica Popular Brasileira. Nos
pr ximos dias, lan a um CD pela Trama, com arranjos de Th o de
Barros e dire o musical de Fernando Faro. Tem modinha mineira,
coisas do norte do Brasil, seresta, uma m sica caipira do Marcelo
Tupinamb e dois sambas in ditos do Paulo Vanzolini , conta. Uma
artista incans vel que encontra vitalidade na paix o das coisas
que faz. Acompanhe a seguir a entrevista que concedeu a P gina
da M sica.
P gina da M sica Primeiro a gente gostaria que
voc contasse um pouco sobre como vai ser esse Auto de Natal, no
Sesc Ipiranga, esse Natal brasileiro.
Inezita Barroso Gostaria de
lembrar que pesquisei durante muito tempo para recolher esse
material. E n o foi pesquisa de livro, n o, eu fui aos lugares, ao
vivo. Ouvi tudo, tomei nota de v rios temas nordestinos, do Rio
Grande Sul, de Minas Gerais...
PM Quando voc diz que a pesquisa de muito
tempo porque voc est contando mesmo todo o seu tempo de
pesquisa sobre o folclore brasileiro?
IB Isso. S o mais de 50
anos. Estou com 50 anos de carreira. Ent o, um trabalho de
pesquisa muito grande que tenho.
PM Voc reuniu todo esse trabalho ou tinha uma
id ia mais espec fica de fazer esse Auto de Natal em algum
momento?
IB Tinha, mas isso h muito
tempo. Eu achava meio rid cula toda essa hist ria de neve, algod ozinho
na rvore de Natal. Meu pai tamb m era muito brasileiro e adorava
mexer com essas coisas. Ent o ele dizia: Vamos decorar essa rvore,
mas ser um p de caf . A gente tinha um l em casa, mor vamos
numa casa enorme.
PM Isso em S o Paulo mesmo?
IB , em S o Paulo mesmo.
PM Em que bairro voc s moravam?
IB Mor vamos em Perdizes.
Decoramos esse p de caf e ficou deslumbrante. Fizemos todos os
enfeites a m o. Da meu pai dizia que s faltava mudar a m sica,
porque Jingle Bell ningu m
ag entava mais. E o pessoal nunca havia escutado falar em Folia de
Reis. N o dava mesmo valor aos reis magos, n o ? Quando em v rios
pa ses, mesmo da Am rica do Sul, festejado tudo no dia 6 de
janeiro, que o dia importante dos Reis Magos, os presentes e tudo
mais. A Argentina um desses pa ses. Pesquisei isso tamb m. Ent o
para qu dar presente no Natal? Porque presentes eram as ofertas
que os tr s reis magos levaram para o Menino Jesus. Tinha que ser
no dia 6 de janeiro. Mas brasileiro louco para copiar coisas de
fora, e tudo fica muito alterado. Da que eu fui cismando de
colocar tudo isso numa linha reta e de fazer esse espet culo. At
que encontrei o Bando Flor do Mato. Conversei com o Fraga...
PM Isso mais recentemente?
IB Isso foi mais ou menos em
1980. Contei para ele que tinha pesquisado e come amos a examinar
as m sicas. Olhamos v rias Folias de Reis, v rios Bois que tem no
nordeste. Examinamos tudo e escolhemos um programa grande. S o 25 m sicas.
E n o d para reduzir, porque cada uma significa uma poca entre
dezembro e janeiro.
PM Esse programa de 25 m sicas passa pelos g neros
chamados Pastoril, Reisado, Folia de Reis...
IB Tem tudo. Come amos a
montar o espet culo e conseguimos teatro. Primeiramente fizemos num
Sesi. Isso ainda na d cada de 80. Fizemos no Sesi da Avenida
Paulista e foi um sucesso enorme. Depois a gente voltou e fez
novamente. Foi quando a prefeitura se interessou e agendou uns 20
teatros para a gente fazer. Percorremos v rios: Paulo Eir ,
Cacilda Becker, entre outros. Tinha um p blico consider vel, mas o
pessoal n o entendia muito o significado das coisas. Para explicar,
lendo as m sicas, ficaria muito comprido. Mas nessa altura a gente
j catequizou um pouquinho o pov o mostrando mais as Folias de
Reis, o Pastoril, essas coisas brasileiras. Se n s temos isso, por
que n o mostrar?
PM T o bonito, n o?
IB Pois . diferente, uma
m sica especial para a ocasi o. Eu escrevi dois espet culos: um
de Natal e um de S o Jo o. N s apresentamos muitas vezes. No
Centro Cultural, ali na Vergueiro. E a gente est sempre aumentando
alguma coisinha. Num determinado momento tamb m, resolvemos
convidar crian as para trabalharem com a gente, e elas est o at
hoje. S que agora s o mo os.
PM Eles s o de um grupo espec fico?
IB um grupo de uma escola
de arte. Ainda crian as, eles j adoravam fazer esse Auto de
Natal. E hoje, depois de mo os, querem continuar fazendo, n o
querem largar.
PM Ent o um projeto montado h muito tempo j ?
IB Bastante tempo.
PM S o quantas pessoas no espet culo?
IB O Bando, entre m sicos e
cantores, s o 13. As crian as t m esse mesmo tanto tamb m, mais
ou menos.
PM Mais ou menos umas 30 pessoas?
IB Mais ou menos, durante o
espet culo inteiro. Algumas coisas j foram trocadas, do projeto
original que fiz. Por exemplo, n s t nhamos um violeiro muito bom,
a ele ficou muito estrela e saiu do grupo. Ent o, outro rapaz que
j estava nesse grupo, o Teixeira, aprendeu a tocar viola. Tamb m
trocamos a percuss o. Quem faz agora o filho de uma das cantoras
do Bando. Quando ele era pequenininho, j tocava bem. Algumas m sicas
tamb m foram trocadas, j que a gente ia descobrindo outras Folias
de Reis bonitas.
PM Voc pode descrever, mais ou menos, que tipo
de m sicas estar o no espet culo? Como ser o espet culo?
IB uma festa de rua, ao ar
livre. Estou realizada, muito feliz neste ano, j que vai ser ao ar
livre pela primeira vez. Ali s, fizemos uma assim, mas em Jaguari na.
A gente come a com uma Folia de Reis que se chama Anuncia o,
dizendo que o Menino estava nascendo em Bel m. uma primeira
musica que cantamos fora de cena. Depois tem o Pedido de Licen a.
Esse pedido bem comum no nordeste para S o Jos . Voc pede
licen a para S o Jos para come ar a festa. Entram as
pastorinhas e cantam: d licen a de entrar/para visitar o
Menino/n s viemos para adorar... . Dan am e cantam. Depois elas
cantam uma m sica dando boa noite. Tudo isso folclore recolhido.
A interessante porque tem a mestra e a contra-mestra. Ambas se
vestem de duas cores: azul e vermelho. E tamb m tem a Diana
que adota as duas cores. Primeiro entra a mestra, vestida de
vermelho. Depois entra a contra-mestra, cantando: venho cantando
alegre l do sul/sou contramestra do cord o azul . A vem a
Diana: sou a Diana, n o tenho partido/s o meus partidos vossos
cora es/veja meus senhores, e minhas senhoras/sou a Diana desses
dois cord es . Depois come am a entrar personagens, porque essa
festa uma reuni o de v rios cord es antigos. Isso j vem de
Portugal. Eram muitos cord es o dia inteiro. Eles cantavam nas
portas das casas e o dono da casa dava bolo, caf , um monte de
coisa. Ent o eles n o ag entavam mais, porque come ava s 6
horas da manh . Eles passavam o dia inteiro para recolher dinheiro
para o dia de reis. Os donos das casas n o ag entavam o dia
inteiro dando dinheiro e comida. Por isso juntaram os cord es. A pr xima
cena da borboleta, que remanescente de um dos cord es. Eu
sou a borboleta, pequenina e faceira/ando no meio das rosas,
procurando a quem me queira . A entram as ciganas, tamb m numa
cena muito bonita. Cigana morena do Egito/com cheiro de cravo e
canela/balan a as pulseiras de ouro/e a saia de ceda amarela .
Depois vem a entrada de Pastoril, que descreve o nascimento de
Jesus.
PM O espet culo vai acontecendo cronologicamente
mesmo, n o ?
IB N s colocamos em ordem,
porque no nordeste eles fazem bagun ado mesmo. A entram os
marinheiros que fazem parte da Marujada nordestina. E eles cantam
como marinheiros: marinheiro maniola/quem te ensinou a nadar/foi
o tombo do navio/foi o balan o do mar . Dan am e cantam. Acabam
esse quadro cambaleando, com uma garrafa na m o todos eles. Mas
uma representa o. Depois tem outra, essa n o fui eu que recolhi,
que Trul u da Marieta, que ainda faz parte da Marujada. Marujada
ou Barca ou Nau Catarineta, tem tr s nomes conforme a regi o.
Vem chegando a nossa barca, com todos os seus marinheiros/para
mostrar as tradi es, do folclore brasileiro . Depois disso come a
a parte do Boi. A tamb m muito bonito, tem um ritmo assim de
batuque.
PM E o p blico se envolve?
IB Se envolve, chega a subir
ao palco.
PM Tem essa permiss o?
PM Tem, porque a gente
convida para ver o Menino Jesus. Logo em seguida eu canto um peda o
do Cavalo Marinho, que um personagem do Boi tamb m. Em alguns
lugares, o Cavalo Marinho muito importante, o dono do
Bumba-Meu-Boi. Vem meu boi bonito/vem dan ar agora/j deu meia
noite/j rompeu a aurora . Essa a entrada do Boi, que entra
dan ando e cumprimenta todo mundo. A tem v rios enredos para o
Boi. Varia de regi o para regi o. Tem a tamb m uma melodia
tradicional que a gente ensinava para as crian as que : o meu
boi morreu/que ser de mim/manda buscar outro, maninha/l no Piau .
Nesse momento, tem outro personagem remanescente de cord es
antigos, que o Jaragu . como se fosse um bruxo, tem uma cara
de bicho, bem alto. Depois entram os caboclinhos, que tamb m tem
bastante no Boi. Caboclinhos ndios. Quem s o voc s?/caboclinhos
da aldeia/para onde v o?/vamos para Bel m/a ver o qu ?/Jesus,
nosso bem . E eles se aproximam do pres pio. linda essa m sica
tamb m. A eu canto uma do Rio Grande do Sul, que se chama O facho
da Estrela Guia. E entra a estrela que j est anunciando a vinda
dos tr s Reis Magos. Come am, ent o, as Folias de Reis. Tem uma
que recolhi em Minas, com meus alunos. Na cidade de Ribeir o das
Mortes. uma m sica muito bonita, o pessoal costuma chorar nessa
hora. Depois vem um reisado do Piau . Uma polca. N o sei de onde
sa ram essas coisas, acho que veio de Portugal mesmo. Vai
descrevendo a entrada do reisado. Porque no nordeste reisado, mas
de Minas para baixo Folia de Reis. a mesma coisa, s que no
nordeste n o t o religiosa quanto a nossa. Depois vem o
encontro de bandeiras. Essa hora ai de chorar tamb m. uma m sica
conhecida porque o Pena Branca e Xavantinho gravaram. Ai, que
bandeira essa/na porta da sua morada/onde mora o calix bento/e a
h stia consagrada . E a tem o grande final. A bandeira vai
embora e tem a queima da lapinha. No nordeste, pres pio chama-se
lapinha. Todos se dirigem ao Menino Jesus, a maioria ajoelha e canta
uma m sica que recolhi em Pernambuco, chamada A Queima da Lapinha.
Porque os objetos do pres pio t m que queimar, n o pode jogar no
lixo. Aparece umas luzes e um anjo bem bonito. uma choradeira
geral. Enfim, estou muito animada, est tudo muito bem ensaiadinho.
PM Inezita, vamos falar um pouco de sua carreira
tamb m. Esse ano voc completou 50 anos de carreira, que come ou
na R dio Nacional, certo?
IB Exatamente. Mas eu fiquei
na R dio Nacional menos de um ano. A Record ia abrir a televis o e
eu estava alucinada para fazer televis o. Paguei uma multa bem
grande para a R dio Nacional, eles n o queriam deixar eu sair e
fui para a Record. Fiquei fazendo r dio e TV na Record. Grandes
maestros, orquestras, Herv Cordovil, Gabriel Mignone, gente muito
famosa. Eu me dei muito bem l , fiquei muitos anos, com programa
individual, que coisa que n o tem hoje mais. Programa de meia
hora, toda sexta feira. Depois comecei a ficar chateada, porque
passou para audit rio o programa que a gente fazia era em est dio.
Super cuidado, tinha ensaio de tarde, ensaio de c mera e tudo.
Quando eu digo que a televis o piorou muito o pessoal fica bravo
comigo. Mas eu vi isso. Os t cnicos que sa am da Vera Cruz, do
cinema, eles iam todos para a televis o. Era uma exig ncia terr vel,
a c mera tinha caminho para andar. Ent o era uma coisa perfeita,
porque era tudo ao vivo, n o tinha videotape, n o podia gravar
nada.
PM Legal. Essa m sica que voc trabalha, desde
ent o, como voc a define? Como regional, de raiz, m sica
caipira, ou est tudo no mesmo balaio?
IB N o, porque est meio
misturada com as coisas folcl ricas. um trabalho muito grande de
pesquisa, tamb m nessa rea caipira. Agora, a maioria das m sicas
caipiras, leg timas, as modas de viola, tem autor. Ent o, quando
tem autor a gente n o pode dizer que folclore. N o pode
misturar.
PM O folclore ent o aquela m sica que a
gente chama de dom nio p blico?
IB Exatamente. As m sicas
que s o muito cantadas ou as que a gente vai recolher, como essas
cantigas do espet culo, que todos os anos s o as mesmas.
PM As que a gente identifica com autor m sica caipira?
IB a m sica caipira de
viola. N o sertanejo, pelo amor de Deus.
PM Pois , o sertanejo acabou ficando...
IB - ...bolero, n ?
PM Mas antes de acontecer essa deturpa o da m sica
sertaneja...
IB - ... eles acham que evolu o...
PM Mas seria um termo aut ntico tamb m?
IB que o pessoal odiava
falar caipira. Principalmente o pessoal do interior. Chama um cara
de Ribeir o Preto de caipira para voc ver. At hoje. Eles fazem
quest o de dizer que n o gostam de m sica caipira. Voc entra no
carro deles e est cheio de fita desse tipo de m sica.
PM Voc acha que a boa m sica desse g nero tem
bastante espa o, ela respeitada no Brasil hoje em dia?
IB Muito lentamente. Faz
tempo que venho estudando isso. Eu acho que est tudo errado.
Primeiro, tirar a m sica da escola. Foi banida a m sica da escola.
O que o coitadinho ouve em casa? rockinho, balada. Agora s o
essas ignor ncias que inventaram a , pagode e nem sei mais o qu .
E ele vai crescendo gostando tamb m da m sica moderninha porque o
colega tamb m s escuta isso. Depois que ele j tem a cabe a
desligada da multid o, a ele volta para a m sica folcl rica e
caipira. Tenho visto muito, muito isso. Porque ele percebe que
aquilo o importante. Aquilo o povo. E n o essa musica de moda
que vai e volta e passa.
PM Bom, sem d vida que um dos lugares mais
importantes e privilegiados onde essa m sica aparece o Viola
Minha Viola...
IB O nico n o , porque
ningu m ag enta (risos).
PM Com quanto tempo est o programa?
IB Vinte e dois anos. Indo
para 23 sem falhar uma semana. Sem sair do ar e sem mudar de canal.
PM Completa quando esses 23 anos?
IB Em abril do ano que vem. S
que a gente festeja o ano inteiro (risos).
PM Voc est desde o come o?
IB Eu entrei bem no come o.
Antes era o Moraes Sarmento, que era radialista e foi convidado para
apresentar o Viola. Era feito em est dio fechado. Junto com ele
tamb m estava o Non Bas lio apresentando o programa, um grande
compositor mineiro. Mas eles achavam que estava meio sem gra a esse
neg cio de dois homens apresentando o programa. Da o Non
resolveu mudar para Pouso Alegre, em Minas Gerais. E foi ele mesmo
que sugeriu que eu deveria apresentar o programa junto com o
Sarmento, porque ele achava que um casal seria mais bonito do que
dois homens falando.
PM E voc trabalhava onde nesse momento?
IB Estava avulsa, freelando.
Eu viajava muito, cantava em tudo que televis o. Em Pernambuco,
Amazonas, Par , Rio Grande do Sul etc, quando entrou o programa de
audit rio.
PM Quer dizer, j tinha esse interesse na
televis o e j estava atuando no meio...
IB Fixo n o. Quando entrou o
programa de audit rio, que eu perdi o programa sozinha, a achei
que estava muita bagun a. Quis sair da televis o. Era assim, um m gico
misturado com cantora l rica, depois um cantor de samba e assim por
diante. Essa id ia veio do Rio de Janeiro. A R dio Nacional era
feita assim. Enfim, eu achava muita mistura e queria fazer s o que
gosto. Eu sa do meio e fiquei fora uns sete ou oito anos. A
aproveitei para repetir minhas pesquisas, viajar bastante, j que
eu n o estava amarrada com ningu m. E o Non falou que eu iria
ficar no lugar dele. Fui na TV Cultura, acho que era a N dia L cia
a diretora musical, e ela achou uma id ia maravilhosa.
PM Era ainda no primeiro ano do programa?
IB Sim, eles come aram em
abril de 1980 e eu entrei acho que em agosto. Da tamb m veio a id ia
de colocar o programa no teatro Cultura e com p blico, porque
ficava muito triste no est dio. Foi quando nasceu aquela Orquestra
de Violeiros de Guarulhos. Isso porque eu insisti muito. Ent o,
minha estr ia no teatro foi com a Orquestra de Guarulhos, que j
est extinta. E foi um sucesso b rbaro. Desde esse dia, sempre tem
gente no audit rio. briga para entrar. Eles chegam s 9 horas
da manh para entrar s 3 horas da tarde. Almo am ali, tudo
sentadinho e em fila. Eles amam a gente. Aquele audit rio acompanha
a gente h 22 anos mesmo. Tem gente que foi no primeiro programa. A
gente j sabe o nome, j conhece a fam lia, muito engra ado.
uma coisa fiel.
PM Al m disso, voc ainda d aula de folclore
e hist ria da m sica popular brasileira?
IB Estou tamb m completando
quase 20 anos tamb m lecionando nessa rea.
PM Voc percebe muita gente nova se interessando
pelo folclore brasileiro?
IB No come o, no terceiro
ano, eu dou aula no terceiro e quarto anos, em Faculdade de Turismo.
Ent o, no terceiro eles entram muito assustados pensando que uma
coisa incr vel e, quando eles come am a se identificar, eu come o
a judiar um pouco deles, pedindo para fazer pesquisa em casa.
Pe o para eles levantarem como que as av s deles curavam as doen as,
a eles v m com um monte de material.
PM Quer dizer, a cultura popular, o folclore est
do lado das pessoas e elas n o v em.
IB N o viam. Nossa, o que
eles t m me apresentado de trabalho bonito!
PM Voc se surpreende at hoje com as coisas da
cultura brasileira?
IB Ah, claro. E eu fico feliz quando sei que n o
morreu. Est l dentro das pessoas, pulsando. Agora, a gente n o
quer mesmo m dia, essas porcarias, n s n o queremos nada com
isso. A os novinhos falam assim: por isso que voc s s o
pobres, o neg cio ganhar dinheiro . S que eu sou de outra
opini o.
PM Voc vai lan ar um novo disco, Inezita?
IB Estarei lan ando um muito
breve, talvez ainda antes de acabar o ano. Eu fui contratada pela
Trama, que uma grande companhia. D o tudo que voc quer, viu,
muito diferente das outras.
PM O CD est pronto?
IB Est . S falta agora
tirar umas fotos para publicidade.
PM Voc pode adiantar alguma coisa que tem no repert rio?
IB Os arranjos s o do Th o
de Barros e a dire o do disco do Fernando Faro. N s fizemos
muitas reuni es para resolver o que ia entrar. Tem modinha mineira,
coisas do norte do Brasil, seresta. Caipira mesmo, acho que tem uma
que foi composta pelo Marcelo Tupinamb , que eu n o posso deixar
de fora. Maricota sai da chuva que oc vai se acostip . Era
uma m sica feita para teatro de revista, ele escreveu muito para
teatro de revista. Eu gravei essa e ficou uma gracinha o arranjo.
PM Essa m sica j havia sido gravada?
IB Tinha um conjunto que
gravou isso, mas n o sei o nome. Depois n s fizemos um concerto em
Piracicaba s sobre Marcelo Tupinamb . Levantamos 300 e tantas m sicas.
Ele tem coisas lindas. Nesse dia, no Teatro Municipal de Piracicaba,
n s s cantamos e contamos coisas sobre ele.
PM O que mais tem no disco?
IB Tem dois sambas in ditos
do Paulo Vanzolini. Ficou bonito, viu.
PM Est feliz com tudo que voc realiza?
IB Estou muito animada, eu
adoro as coisas que fa o.
Auto de Natal Inezita Barroso e grupo Bando Flor do Mato
Dia 14 de dezembro, s 20h
Sesc Ipiranga Rua Bom Pastor, 822
Tel. (11) 3340-2000
Gr tis
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